sábado, 20 de junho de 2009

Largo de São Domingos


Desde o início, os colonizadores portugueses procuraram utilizar mão-de-obra escrava para as mais variadas tarefas, especialmente as braçai
s, inadmissíveis a um nobre. A tentativa com os indígenas não produziu os resultados esperados, e, assim, iniciou-se o tráfico negreiro, que perduraria até o século XIX.

Os escravos do Rio de Janeiro sofriam a mesma sorte que os de outras localidades, atingidos por toda sorte de violências e injustiças. Mas, apesar das dificuldades, alguns deles, libertos ou não, lutaram e conquistaram pequenos espaços, onde exerciam sua devoção religiosa e se encontravam, para, através do contato social, aliviar ou esquece
r por alguns momentos a difícil existência.

Assim, no começo do século XVIII, com extremo sacrifício, foi erguida uma capela em uma área remota fora do centro, chamada de Várzea da Cidade. Ninguém por ali morava, só existindo um caminho, que ia dar no Valongo (Saúde). A partir deste, a uma certa altura, pegava-se o acesso ao modesto templo. Dedicado a São Domingos de Gusmão, ficava em frente a um cemitério onde eram sepultados escravos.
A antiga igreja e o Largo de São Domingos, ainda em pé nos anos 20

Os anos passaram, e a zona urbana começava se dilatar e estender em direção ao Mangue, envolvendo a pequena capela com novas construções e inserindo-a em uma rede de ruas até então inexistente. Doravante, não estaria mais só. Foi construída em seu lugar, em 1791, a Igreja de São Domingos, a qual permaneceria com o mesmo aspecto até seu fim. Era pequena e tinha três altares, dedicados a São Domingos, N. Sª da Conceição e N.Sª das Dores, além de uma imagem de N.Sª de Santana na Sacristia. Em 1854, a iniciou-se a construção de uma nova igreja, mas, por falta de recursos, a obra foi interrompida logo no início. A igreja e seu largo ficavam onde é atualmente a av. Presidente Vargas, em frente à av. Passos. O largo fazia esquina com a rua General Câmara, que corresponde ao lado ímpar da avenida, ficando o templo recuado, ao fundo. As fotos existentes foram tomadas olhando-se na direção da Praça da Bandeira.

A igreja e o largo de São Domingos desapareceriam quando da abertura da av. Pres. Vargas, em 1942, junto com uma parte enorme do patrimônio histórico do Rio. O pequeno templo, obra de várias gerações de escravos, nos lembra o esforço e dedicação daqueles que, mesmo quando despojados de todos direitos inerentes ao ser humano, lutaram para celebrar sua fé assim como a própria vida.

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